terça-feira, 31 de julho de 2012

Brasil: 59 Noites, relatos em domingos.

Dia 1

Hoje minhas idas por terra nacional fazem vida nestas horas. Nem me sabia tão destrambelhada, era medo de perder o tempo, o vôo, excitação de encontrar os sonhos, corpo tensionado, coração ora trancado, ora exaltado, como se estivesse por entre as mãos apertado. Pensei mesmo ter eu encontrada.

Dia 2

Sono recuperado, e certeza de mais um dia vivido com sol do Rio me levando à crer que só se vive o que quer. Chegada: Rio de Janeiro/Brasil

Dia 3

Mala pronta, levando somente o que o peso suportar encontrar. Um pão e um café daqueles de beira de estrada, onde o preço de um vem embutido no outro: compra um, ganha o outro por um preço irrisório. Hoje, coração teve dia de paz e os pensamentos do mundo, assim, correram por trás. Destino: Paraty/RJ

Notas do Dia 3: Pessoas falam, a música faz o som das vozes e o baixo é as ondas do mar. A paz lentamente deu espaço prum isolamento de ser carente, de fim de noite, de fim de noite,  estranhamento de escutar a voz ecoando pra dentro, de não encontrar parentesco.

Dia 4

Jeito de acordar atravessado, o pensamento atrapalhava o corpo exagerado. Todos eles me estranhavam, e eu os via sem medo e perguntava aonde estava minha tribo? Fui a praia, tomei meu primeiro mergulho de mar depois de morrer estrangeira no Rio de Janeiro. Meu andar solitário marcava a ausência de espaço entre eu e o mar.

Dia 5

Abri os olhos. Reconheci horas escondidas em devaneios mentais. Comecei novamente, desta vez cedo caminhei por entre ruelas desnuda de gente, e eu me senti querendo revê-las. Decidi uma salada com suco de manga, pra fazer a saudade desta vida tropical. Uma faísca no lado esquerdo do peito me querendo nominar o outro, uma sutil faísca e a tentativa da desistência do grito.

Dia 6

Deixei Paraty/RJ com vontade de pra sempre ficar. Cheguei no Rio feito só ansiedade pra ver meu irmão surpreso com minha visita. O abraço foi de quatro estações. Ele sorriu. Eu estranhei,pois era como se eu  tivesse o visto bem ontem, tão cheio que já estava em meus pensamentos, organizando o encontro. Fomos os três para a conhecida padaria Colombo fundada em 1894, e reconhecida Patrimonio Artístico e Cultural do Rio de Janeiro.

Dia 7

Hoje foi dia de vida no Rio, choveu o dia todo, aprendi que a gente leva anos para desvendar pequenos mistérios e que ensinar parece ser a atividade mais elevada e honrada que um ser humano pode se propor à fazer na vida. Aprendi que sim, disciplina é liberdade, e que a vida acontece  no tempo do compasso agora. Sem nem precisar fazer, deixar acontecer, como se na espera infinita de um canto de ontem o corpo deixasse de existir e levasse o ser à sentir.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Lá na França...

Lá na França é sempre acalanto, lugar de resgate de encontro com gente que me ensina a viver, só porque faço deles singularidade de ser, quase como quando me devaneio por entre os cafés de Dublin vendo pessoas passar. Mas é que ver pessoas passar me traz outra intimidade e tantas vezes solitude. Lá não, lá é encontro coração, sem querer eu faço canção. E engraçado, as vezes eu fico querendo descobrir os pensamentos deles, noutras a respiração é natural, e a gente brinca de viver. Passei 4 dias com 4 seres, dois-a-dois e eu seguia...Ah, aquelas refeições, que já me esquecia, duravam 3 horas. Um garfo, uma fala, uma risada, uma escuta, o tempo era nosso e eu descobria um sem fim de lugares em mim. Foram dias numa casa de campo. Escutei música, meditei todas as manhas, comi sem pressa, com o cuidado de não vacilar, melhorei meu francês, li um livro de Stéphane Hassel em conversas com Dalai-Lama, sobre paz e direitos humanos, senti fome, e descobri novamente, que sim, isso é bom.

A primeira vez que a gente morre é.


 

A primeira vez que a gente morre é sofrido, a gente estranha é doído. É como entrar pela primeira vez no mar, mesma sabendo nadar, gostando de molhar o corpo só pra deixar o sol secar. Ainda assim, a gente entra devagarinho, molha um pé, depois o outro, sente a diferença de temperatura, vai caminhando pro fundo. Vem uma onda, bate e quebra no umbigo, a água desce e volta a ondular nas pernas, a gente dá mais um passo, segue pro fundo. Vem outra onda mais forte, agora quebra no peito, a gente arrepia a espinha e a água desce. O sal começa na pela a grudar, a gente respira, nem vê a onda passar. Nos derruba e acontece o primeiro gole de mar. Quando a gente morre é assim, sempre acontece o primeiro gole de mar, a gota que nomeia o sentido de amar. Mas a gente as vezes finge, morre sem saber, sem nem querer lembrar e esquece abraçar oque nos bate a porta nos chamando transformar.